História da Carla e sua ninhada



Olá, meu nome é Carla.

Vou contar um pouco da minha história de vida...

Nasci nas ruas sem conhecer meus pais e por lá me criei. Não tenho uma herança genética definida, mas sou um cão. Apenas um cão.

Mesmo sendo uma garota de rua, nunca fiz mal a ninguém. Nunca mordi um ser humano, nunca briguei com uma criança.

Não entendo porque me bateram, me chutaram ou me excluíram... sempre tentei ser agradável com as pessoas, pedindo um pouco de carinho nas minhas orelhas, um afago nas minhas costelas.

Para não ficar de barriga vazia, eu precisei rasgar sacos de lixo, pedir restos em restaurantes, açougues e talvez eu tenha incomodado. Perdoe-me, era a fome.

Fui crescendo, sobrevivi a todos os vírus e doenças. Morei em vários lugares da cidade e arrumei um namorado.

Em nossa última rua, um ser humano começou a dar veneno a todos os cães. Todos morreram com fortes dores na barriga. Acho até que também comi a comida envenenada... Mas sou forte e sobrevivi sem conseqüências.

Um grupo de meninas, jovens ainda, me tirara das ruas e me levaram para a casa delas, que era chamada de república. Fiquei muito feliz, porque estava nos meus últimos dias de gestação e muito magra. Quase não andava para economizar energia.

Era véspera do feriado do dia 15 de novembro de 2010, fui para a casa de uma estudante de veterinária, onde nasceram meus filhotes, oito nenéns. Um parto difícil precisei de ajuda.

Estava muito feliz!
Percebi que um filhote não estava muito bem, não conseguia mamar e era muito fraquinho. Infelizmente na primeira semana, ele se foi.

Fiquei triste, mas continuei cuidando com todo amor dos outros sete pequenos. Que mamavam e engordavam. Meus filhos eram lindos e ouvia os humanos procurando uma boa família para eles.  Fiquei em paz, acreditando no futuro.

Na terceira semana de vida dos meus filhos, percebi que eles estavam passando mal. Gritavam, se contorciam e espumavam pela boca. Fiquei desesperada e fomos todos levados ao médico. Ninguém sabia explicar o que ocorria, podia ser resultado do veneno, algum vírus, não sei... Mas percebi que todos se esforçavam para ajudar meus filhotes.

Começaram a tomar gardenal e vitamina. Comigo não aconteceu nada.

Uma menina, após muito sofrer não agüentou as convulsões e morreu.

No dia seguinte, a situação piorou e todos estavam muito doentes, foram levados novamente ao médico e quatro precisaram ser eutanasiados. O sistema nervoso estava todo comprometido, provavelmente não conseguiriam se alimentar ou andar.

Chorei muito... não entendi o que aconteceu, procurei pelos meus nenéns por toda a casa. Pedi aos humanos para me devolverem as crianças. Foi muito difícil...
Aceitei novamente.

Fiquei com apenas dois cachorrinhos. Muito abalada continuei cuidando com mais carinho ainda.

No dia 07/12/2010 eles pioraram e precisaram ir ao médico novamente... Os humanos conversaram comigo e explicaram o que acontecia. Um deles já não enxergava mais e o outro sentia muita dor. Lambi meus nenéns e deixei que os levassem. 

A dor foi  enorme. Chorei, fiquei desesperada.

Choro ainda... estou cansada de tanto chorar a procura deles.
Agora, sem meus filhotes preciso de uma família que me aceite já adulta.

Sei que não sou parecida com a Lessie (aquela atriz de cinema, uma cadela muito bonita), mas sou meiga, carinhosa, super silenciosa, não vou roer móveis ou fazer xixi no seu tapete, afinal sou adulta e responsável pelos meus atos.
Aceito ficar no quintal, só peço uma casinha onde não bata sol, um pote de ração e água. Serei fiel e eternamente agradecida a quem me adotar.

Tenho feito muitas preces a São Francisco de Assis, protetor dos animais, para que uma família me adote e peço que essa família seja abençoada.

Sou apenas uma cadela,  que já sofreu muito na vida.

Contato: Verônica – veronica.delpino@hotmail.com

“virá o dia em que a matança de um animal será considerada crime tanto quanto o assassinato de um homem”. Leonardo da Vinci.